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93º Concerto: Marcello e Brahms

08 de julho de 1954
7 pessoas

1ª parte

Benedetto Marcello


Benedetto Marcello é não só um dos grandes nomes setecentistas da famosa escola veneziana, mas também um dos músicos italianos mais importantes da primeira metade do século XVIII. Filho de nobre família de Veneza, homem de inteligência vivíssima, beneficiada desde cedo por uma educação literária cuidadosa, Benedetto Marcello foi, além de músico, escritor e poeta de excelentes dotes. A essas atividades artísticas ainda somou estudos de Direito e, desde os vinte anos, o exercício de diversas funções públicas importantes, entre as quais a de membro do Conselho dos Quarenta, um dos tribunais da República Veneziana.
As obras de Marcello compreendem cantatas, canções madrigalescas, concertos, óperas, oratórios e muita música religiosa. A este último gênero pertence sua obra-prima: o "Estro poetico-armonico", coleção de 50 salmos para várias vozes, trabalho geralmente considerado magistral e que, segundo o musicólogo italiano Antonio Capri, "atingiu o vértice da lírica musical religiosa do setecentos italiano".
Na ausência de registros fonográficos desses Salmos, nosso concerto de hoje exemplifica a música de Benedetto Marcello com uma cantata para voz solista e um concerto para oboé, reveladores da sobriedade que o compositor procurou sempre imprimir à sua música, contrapondo-a principalmente aos exageros de mau gosto a que o teatro de ópera estava então conduzindo a música veneziana. Além de combater esses exageros pela simplicidade e o bom gosto equilibrados de suas obras, Marcello, dono de rica veia satírica, ridicularizou-os em diversas cantatas e numa sátira literária que ficou famosa: o "Teatro alla moda”, escrita possivelmente em 1720.

Discos
Fontes:
Gove's Dictionary of Music and Musicians, ed. de 1946.
Gino Roncaglia: "Il Melodioso Settecento Italiano”. Milão, Hoepli, 1935.
Antonio Capri : "Il Settecento Musicale in Europa”. Milão, Hoepli, 1936.
Benedetto Marcello (Itália, 1686-1739):

Disciogletevi in pianto (cantata para baixo, com acompanhamento de baixo contínuo e cravo)



Concerto para oboé e cordas



2ª parte

Brahms

A música da segunda metade do século XIX situa-se numa fase histórica geralmente designada como Romantismo tardio, fase que teve como características essenciais duas reações: uma contra as exterioridades românticas, o pitoresco, o descritivo, o exagerado; outra dirigida especialmente contra Wagner que, pelo caráter extremamente individual do seu gênio, principiava a dar mal-estar a seus próprios patrícios.
Brahms é o maior representante alemão do Romantismo tardio. Após uma fase juvenil de "Ânsia e Tormenta", Brahms foi se despindo progressivamente de ímpetos e estardalhaços expressivos, até atingir a expressão condensada que deu à sua música bem construída, um recolhimento e uma intimidade admiráveis.
Embora o piano tenha ocupado lugar de relevo em toda a sua carreira, Brahms se dedicou a ele especialmente no início da sua vida artística, ao tempo em que muito se beneficiou da amizade e influência de Schumann. Uma das suas obras-primas para esse instrumento são as Variações e Fuga sobre um tema de HandeI, geralmente consideradas uma das grandes joias da literatura pianística. Escritas em 1861, essas Variações pertencem à segunda fase criadora de Brahms, colocando-se num período em que ele, tanto nos seus estudos quanto nas suas composições, cuidou particularmente da forma da Variação. Sem entrar em complicações técnicas, podemos explicar assim o que seja essa forma: a Variação é um processo de criação musical em que o compositor, tomando um trecho próprio ou de outrem, modifica-o num de seus elementos (ritmo, harmonia, melodia, ornamentos, rapidez, modo, tom), mas de jeito que esse trecho básico, chamado tema da Variação, não perca a fisionomia própria e seja sempre reconhecível sob a roupa nova.
Karl Geiringer acentua que, nas Variações hoje apresentadas em nosso programa, "Brahms atingiu a completa maestria da forma da Variação. Nesta obra todos os princípios da variação seguidos em obras mais antigas são unidos pela primeira vez. Na maioria das 25 variações a estrutura harmônica e periódica do tema é escrupulosamente preservada, e igual atenção é dada à melodia, É precisamente por esses escritos que o mestre se impôs, que a força da imaginação e a habilidade técnica exibidas por ele nesta obra conferem-lhe uma posição especial entre suas composições para piano. É difícil dizer o que causa maior admiração: se a concatenação lógica das variações individuais, sua firme coesão orgânica, a profunda vitalidade espiritual da obra, ou sua pura eficiência como música para piano. (...) O conjunto é uma obra-prima, na qual a estrita observância das normas técnicas e a maior liberdade são miraculosamente contrabalançadas".
Cabe-nos salientar ainda que, sem visarem exibição virtuosística, estas Variações estão entretanto eriçadas de enormes dificuldades para o executante, de quem requerem inclusive força física. Por isso Clara Schumann, grande pianista, escrevia a Brahms: "Sinto-me desoladíssima porque essas variações, que tanto me entusiasmam, estão acima das minhas forças". As Variações são realmente entusiasmantes, "handelianas por sua grandeza, sua potência, seu brilho, seu frescor, seu dinamismo irresistível", como bem comentou Claude Rostand.

Bibliografia:

Oneyda Alvarenga: "Música do século XIX" (curso de História da Música, conferência inédita. Vários trechos literalmente copiados.)
Karl Keiringer: "Brahms - His Life and Work". 2ª ed . rev. e aum. London, George Allen and Unwin Ltd., 1948 .
Claude Rostand: "Les Chefs-d'Oeuvre du Piano" (Petit Guide de l'Auditeur de Musique). Paris, Éditions Le Bon Plaisir, c1950.

Brahms, Variações sobre um tema de Händel (piano)



Duração: 26:22

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