Ouça a leitura desse concerto:

91º Concerto: Bach e Mussorgsky

10 de junho de 1954
4 pessoas


1ª parte

J. S. Bach

Ler comentário escrito para o 21º Concerto*

Bach (Alemanha, 1685-1750): Concerto em Dó Maior, nº 2, para dois pianos e orquestra.**

(Originalmente, para dois cravos)



Duração: 19:21


2ª parte

Mussorgsky-Ravel

Por muitos séculos, a Rússia só conheceu, como manifestação musical de caráter nacional, a música religiosa de tradição bizantina e a música folclórica, a música anônima do povo, de extraordinária riqueza. Até o século XIX, a música erudita não teve importância nem vida própria, pois realmente viveu de músicas e músicos importados.
O verdadeiro ponto de partida da música russa é Miguel Glinca, nascido em 1804 e falecido em 1857, iniciador de um movimento de caracterização nacional que iria dar importância musical à Rússia e realizar o espantoso milagre da criação e fixação, em menos de um século, de um vasto patrimônio artístico que, além de ter conquistado o respeito e a admiração internacionais, projetou largamente sua influência além da Rússia.
O maior compositor da fase de caracterização nacional da música russa, e talvez até agora o maior compositor russo, foi Modesto Mussorgsky, a quem seus contemporâneos não entenderam e diante do qual se afastaram, irritados pelo que consideravam sua rudeza, sua selvageria oriental e suas audácias técnicas, pois de fato Mussorgsky foi um revolucionário no seu tempo. Entretanto, "esse sacrificado à imbecilidade dos seus contemporâneos", como bem disse Mario de Andrade, está há muito colocado na justa posição devida ao seu gênio e teve não só importância imensa para a música do seu país, como chegou a exercer influência poderosa sobre a música francesa, especialmente através de Debussy e Ravel.
É em orquestração deste último que o nosso concerto de hoje apresenta uma das principais obras instrumentais de Mussorgsky; a suíte "Quadros de uma Exposição", originalmente escrita para piano. Mussorgsky dizia que sua convivência com escritores, estudiosos e pintores fora para ele artisticamente muito mais fecunda e importante que suas relações com músicos: os problemas suscitados por aqueles empurravam-no para a frente. Um desses amigos está diretamente ligado a esta suíte, inspirada numa exposição de pinturas e desenhos de Vitor Hartmann, pintor e arquiteto falecido em 1873. Logo após a morte de Hartmann realizou-se em São Petersburgo uma exposição de seus trabalhos. Mussorgsky, que sentira profundamente a perda do amigo, imaginou então prestar uma homenagem à sua memória, ilustrando musicalmente algumas das suas obras. Assim nasceu a suíte "Quadros de uma Exposição", formada por dez trechos ou quadros que, nos originais, se ligam por curtos intermédios a que Mussorgsky chamou de "Passeios" e representam a caminhada do compositor de um quadro a outro, lembrando o amigo desaparecido.
O primeiro trecho, "Gnomo", liga-se a um quadro em que Hartmann pintou uma pequena figura cômica, provavelmente um ornamento para a árvore de Natal do Club dos Artistas. Os Gnomos são, nas lendas europeias, anões que trabalham em minas preciosas.
"O Velho Castelo" representa um castelo medieval, diante do qual está postado um trovador.
"Tulherias" mostra uma cena nos jardins desse palácio francês: crianças brincando e amas vigilantes.
"Bydlo" é uma carreta polonesa puxada por bois e, para representá-la musicalmente, Mussorgsky usou uma canção folclórica.
A "Dança dos Pintinhos na Casca" inspira-se num desenho pertencente a uma série que Hartmann fizera para um bailado.
"Samuel Goldenberg e Schmuyle" são dois judeus poloneses, e a música acompanha os seus caracteres: um rico e importante, o outro pobre e tímido.
Em "A Praça do Mercado de Limoges" um grupo de mulheres rumorosas discute violentamente.
As "Catacumbas" são as de Paris, inspiradas num quadro em que Hartmann se pintou explorando-as à noite, à luz de uma lanterna.
O nono quadro, "A Cabana de pernas de ave", liga-se a um relógio a que Hartmann pintara com a forma da cabana da Baba-Yaga, uma bruxa muito conhecida no folclore russo. Mussorgsky imaginou, para comentá-lo, uma dança da feiticeira.
O último quadro, “A grande porta de Kiev” [?]*** desenho de Hartmann para a porta dessa cidade, sob o qual passa um cortejo da história russa.

(Descrição da Suíte baseada em comentário do 4º Concerto e em tradução do comentário que acompanha o disco. Dados biográficos de Mussorgsky colhidos em Calvocoressi - "Panorama della Musica Russa".)

Mussorgsky (Rússia, 1839-1881) e Ravel (França, 1875-1937), Quadros de uma exposição



Duração: 34:01

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* O 21º Concerto de Discos se deu no final dos anos 1930. O texto sobre Bach não pôde ser reproduzido aqui porque, como já se explicou na introdução, só foram encontrados os textos datilografados na década de 1950.
** Repetição do 21º Concerto de Discos.
*** O texto original datilografado está ilegível.
**** Repetição do 4º Concerto de Discos.

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