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73º Concerto: Mozart, Bartók e Schumann

30 de dezembro de 1953
18 pessoas
1ª parte

Mozart

O fagote, instrumento de sopro do grupo das madeiras, foi inventado no século XVI, mas sua voga e desenvolvimento datam do século XVIII, século em que, abandonando o seu modesto papel de simples reforço aos baixos da orquestra, passou a ser largamente cultivado por virtuoses e por nobres amadores. Instrumento de extensão sonora mais ou menos equivalente à do violoncelo, rico de recursos expressivos, possuindo um som incisivo capaz de ser sombrio, gracioso ou cômico, suas qualidades explicam, o apreço que lhe deram no século XVIII e sua importância até hoje mantida.
Por encomenda do barão bávaro Thaddeus von Dürnitz, Mozart, compositor austríaco do século XVIII, escreveu. aos 18 ou 19 anos (em 1774 ou 1775) três concertos para fagote e orquestra, dois dos quais se perderam, e a Sonata que inicia nosso programa de hoje. Nesta peça o violoncelo tem função apenas acompanhante. Toda a importância da composição reside no virtuosismo do fagote, nas suas acrobacias brilhantes, entremeiadas de doçura e lirismo, acrobacias que se sucedem como um jorro ininterrupto e exigem do executante alta técnica e esforço pesado.

Mozart (Áustria, 1756-1791), Sonata para fagote e violoncelo



Duração: 09:27


Béla Bartók

Béla Bartók, nascido em 1881, é o mais importante dos compositores húngaros e um dos grandes músicos modernos. Sua formação musical, feita inteiramente em sua pátria, e o empenho com que se dedicou a recolher e estudar o folclore musical húngaro, deram à música de Bela Bartok o caráter intensamente nacional e o feitio pessoal que a distinguem na produção contemporânea.
Muito cedo, desde que se diplomara pela Academia Real de música de Budapeste, Béla Bartók imaginou que a música folclórica húngara não poderia ser apenas a sensualidade epidérmica da música cigana, até então considerada representativa da Hungria. Suas pesquisas intensas, realizadas em colaboração com Zoltán Kodály, outro grande compositor húngaro, confirmaram a suposição. Vasculhando as zonas rurais da Hungria, Béla Bartók obteve e revelou ao mundo um documentário enorme, onde não há “as sinuosidades fáceis da música cigana, mas força, severidade e profunda ligação com a terra".
Embora o velho folclore dos camponeses húngaros lhe tenha dado bases técnicas e expressivas para construir a sua música, as obras de Béla Bartók não são simples aproveitamentos de mananciais folclóricos, mas criação absolutamente pessoal e original. O folclore foi um ponto de partida necessário para a nacionalização de uma música artística que, como a nossa, nao tinha lastros multisseculares de tradição culta, que fatalizadamente lhe dessem cor própria. Desses pontos de partida usados por Béla Bartók, um dos mais importantes, porque atinge o próprio processo de agenciamento dos sons, foi o emprego de sistemas sonoros encontráveis na música folclórica húngara e que são diferentes do sistema habitualmente usado, há vários séculos, pela música europeia. E do folclore lhe vieram também outros aspectos, que poderiam ser considerados como que o espírito da sua música: a rudeza quase bárbara do colorido e dos ritmos, as linhas melódicas incisivas e sóbrias. Tudo isso concorreu, a princípio, para que o público, inclusive da sua pátria, se espantasse com a música de Bartók. Só em 1917, a partir da representação, em Budapeste, do seu bailado "The Woodcut Prince", o grande músico húngaro conquistou a compreensão e o aplauso gerais.
As principais obras de Bartók são os Quartetos, as peças para piano, instrumento a que se dedicou desde muito menino e de que foi professor. Destas últimas, o programa de hoje exibe uma série de pequenas Danças Folclóricas Romenas" e os "Três Rondós sobre melodias folclóricas". A forma do Rondó consiste na alternância de uma espécie de refrão e diversas estrofes musicais. Se chamarmos ao refrão R, a forma do Rondó esquematiza-se deste modo: R+A+R+B+R+C, etc. Nos seus Três Rondós, Béla Bartók expõe como refrãos as melodias populares, em simples harmonizações, a que se seguem as estrofes elaboradas. Tanto os Rondós quanto as Danças sucedem-se em caráter contrastante, alternando vivacidade, sombra, melancolia, rudeza, numa escritura pianística excelente.

Béla Bartók (Hungria, 1881-1945)

Três rondós sobre melodias



Duração: 07:42

Danças folclóricas rumenas*



Duração: 06:19


2ª parte

Schumann

Em um dos concertos anteriores, já tivemos ocasião de dizer que a parte principal da música de Schumann, um dos maiores compositores do Romantismo, é representada pelas obras para piano e pelos Lieder. Se bem que suas Sinfonias, seus Quartetos, seus Trios, seus Oratórios profanos não deixem de exibir a marca de seu gênio, não se equiparam às obras-primas que Schumann legou à literatura pianística e à canção. O caráter profundamente íntimo da sensibilidade musical de Schumann, sua fantasia transbordante, de que resultaram por exemplo os admiráveis pequenos quadros que formam o "Carnaval", realmente não poderiam encontrar meio exato de expressão na amplitude e nos quadros fixos das grandes formas da música sinfônica, de câmara e vocal. Schumann começou a abordar estas formas em 1841, aos trinta e um anos, principiando pelas orquestrais. São de 1841 a 1ª Sinfonia, op. 38, incluída no programa de hoje, e a Sinfonia em Ré menor, op. 120, que, tendo sido refeita em 1846 , passou a ser considerada a 4ª.
A "Primavera" se expande verdadeiramente na alegria juvenil da Sinfonia op. 38, proclamada desde o princípio pelo som das trompas e pistões que abrem o 1º movimento, onde jorram exuberâncias fortes; suavizada na meia-luz, misto de doçura e angústia, do Larghetto; categoricamente afirmada de novo no ritmo marcado do Scherzo e desencadeada em todo o seu moço esplendor, em sua elasticidade moça, no movimento coreográfico que invade o Final.2

Schumann (Alemanha, 1810-1856), Sinfonia em Si Bemol, nº1, op.38 “Primavera”



Duração: 30:23

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* Tal qual foi registrado no programa.
** Há uma nota manuscrita, abaixo da assinatura de Oneyda Alvarenga: “2ª parte do 85º Concerto.”

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