Ouça a leitura desse concerto:

69º Concerto: Hindemith, Schumann, Mendelssohn e Mozart

03 de dezembro de 1953
9 pessoas

1ª parte

Hindemith - Der Schwanendreher

A primeira parte do concerto de hoje apresenta um dos compositores mais respeitados da música alemã deste século: Paul Hindemith, nascido em 1895.
A partir de 1921, Hindemith assumiu a posição de líder dos jovens compositores alemães e data de 1925 a consolidação de seu renome internacional. É por esse tempo que Paul Hindemith atinge o pleno desenvolvimento de seu estilo e suscita uma onda de discussões. Estava-se então no período das intensas pesquisas de toda ordem - formais, rítmicas, de timbres, de sistemas sonoros. Hindemith também muitas fez, muitas enriqueceu com seu seguro conhecimento técnico e muito assustou os... assustáveis, com suas obras em que costumavam aparecer conselhos como este, dado em sua "Sonata para viola, op. 25 nº 1”: “A toda velocidade. De um modo selvagem.
A beleza do som é coisa acessória". Ou como este, da Suíte para piano, escrita em 1922: "Modo de usar: Esqueça tudo quanto você aprendeu quando tomou lições de piano. Não pense para saber se vai tocar o ré sustenido com o 4º ou com o 5º dedo. Toque este trecho com calor, num ritmo imperioso, como se fosse uma máquina. Considere seu piano como um instrumento de percussão". Conselhos sérios, apesar da sua aparente brincadeira, pois significavam que o autor estava procurando quebrar convencionalismos e abrir caminhos novos.
Como toda a música da fase heroica do modernismo, também a de Hindemith, procurando corrigir erros estéticos, caiu não raro num outro perigo: a secura e o intelectualismo excessivo, transformando-se muitas vezes em música mais para ser lida e admirada na inteligência e segurança da sua fatura, do que para ser ouvida. Tamanho empenho em pesquisar roubou a grande parte da música dessa fase, aquele dom humano de comunicação, tão necessário à obra de arte.
Entretanto, Hindemith é, curiosamente, um músico que desde sua maturidade se preocupou com o problema da relação entre a música moderna e as massas, preocupação expressa, por exemplo, nestas suas palavras: " ...a necessidade de música é tão grande, que se torna urgentemente necessário aos compositores e ouvintes chegarem ao menos a algum entendimento".
É certamente dessas preocupações que nasceram obras como "O Girador de Cisnes", incluída em nosso programa de hoje. A peça, em que Hindemith abandona o atonalismo sistemático, foi escrita em 1935 e é toda baseada em velhas canções folclóricas alemãs. O próprio Hindemith assim explicou porque a compôs: "Uma das razões: já toquei muitas vezes meus dois outros Concertos para viola. Outra razão: experimentar até que ponto velhas canções folclóricas alemãs podem ser adaptadas para obras atuais de concerto, com arranjo moderno e mesmo no espírito dos originais". Os princípios que adotou para a composição foram estes: "Escrever uma música clara e limpa; dar ao instrumento solista uma parte atraente; conservar o desenvolvimento harmônico em caminhos tonais inteligíveis; conservar o solista separado da orquestra (por conseguinte, abandono das cordas mais altas que o violoncelo)". O conjunto instrumental adotado é o seguinte: além da viola solista, 4 violoncelos, 3 contrabaixos, 2 flautas, 1 oboé, 2 clarinetas em Si Bemol, 2 fagotes, 3 trompas em Fá, pistão em Dó, trombone, harpa e 2 timbales.
O 1º movimento é baseado numa canção folclórica do século XV, impressa pela primeira vez em 1512. No belo 2º movimento a viola principia dialogando comovidamente com a harpa, antes que apareça uma canção dos séculos XV-XVI, publicada pela primeira vez em 1555 e até hoje cantada na Alemanha. A fuga que constitui a secção seguinte do movimento tem como tema uma canção do cuco, dos séculos XV-XVI, popular até agora, principalmente entre as crianças. No clímax da fuga, aparece nos metais a primeira melodia folclórica do movimento, conduzindo à repetição da primeira secção, isto é, o dueto da viola e da harpa, agora combinado com a exposição, pelas trompas, da mesma primeira melodia folclórica.
O 3º e último movimento compõe-se de sete variações sobre uma canção burlesca do início do século XVII, cujo texto, que dá nome a toda a composição, "parece ser endereçado ao homem que, nas cozinhas, girava os cisnes no espeto (pois então comiam-se cisnes)" .
Os discos mostrarão, com "O Girador de Cisnes", um Hindemith perfeitamente acessível, desenvolvendo uma bela melodia no movimento lento, vivo e colorido nos movimentos rápidos, principalmente na deliciosa Fuga, e muitas vezes deixando a viola vibrar em toda a sua cálida doçura. A execução é a mais autorizada possível: encarregaram-se dela o próprio autor e um conjunto admirado por ele.
Além de compositor, Hindemith é também famoso virtuose da viola, e não só se exibe em concertos como solista, mas foi ainda o viola do célebre Quarteto Amar, fundado por ele.
O.A./et.*

I - Hindemith (Alemanha, 1895-1963), Der Schwanendreher (Concerto para viola e pequena orquestra)



Duração: 26:17


Robert Alexander Schumann

Robert Alexander Schumann, compositor alemão do século XIX, pela sua vida e pela sua obra é também um dos vultos mais características do romantismo.
Apaixonado pela música, começou a compor desde criança, e entre suas obras de infância há o Salmo 150, para coro e orquestra, executado por uma orquestra infantil dirigida por ele próprio. Tornou-se, depois, o protótipo do estudante romântico, a um só tempo apaixonadamente entusiasta e desanimado, esperançoso e desesperado, sonhador e doentio. Convicto de que devia dedicar-se à música exclusivamente, e apoiado pelo professor Wieck, abandonou o curso de Direito que frequentava, dedicando-se inteiramente à arte escolhida.
A música vocal ocupa um lugar importantíssimo na obra de Schumann e a Alemanha tem nele um dos mestres da sua canção, o lied.
A pequena peça coral incluída no programa de hoje é a terceira de uma série que Schumann compôs para poemas de Emanuel von Geibel: a 1ª é destinada a 2 sopranos, a 2ª a 3 sopranos e esta 3ª, "Vida Cigana", foi escrita para pequeno coro, triângulo e pandeiro.

II - Schumann (Alemanha, 1810-1856), Zigeunerleber, op. 29, nº3



Duração: 03:21


Felix Mendelssohn-Bartoldy

Felix Mendelssohn-Bartholdy, nascido em 1809 e falecido em 1847, é um dos mais legítimos representantes do romantismo musical alemão. Mendelssohn é um romântico influenciado por Mozart e Weber. Junte-se a esta influência clássica e pré-romântica, o estado de espírito peculiar do seu tempo e ver-se-á o compositor brilhante e ágil, dotado de uma invenção musical essencialmente melódica em que repontam traços de banalidade, o compositor bem eivado de melodia sutil e procurada, escrito a gosto da época, que foi Mendelssohn. A escritura musical de Mendelssohn caracteriza-se pelo equilíbrio e a elegância, que lhe vieram da sua formação clássica. Essas qualidades ele as demonstrou nas suas obras para piano, para orquestra, para conjunto de câmara e para coros.
Da sua obra coral, que compreende composições de vulto como os dois oratórios "Elias" e "Paulo", o programa de hoje apresenta trabalhos menos ambiciosos: três sóbrias e bem feitas harmonizações de canções folclóricas alemãs.

III - Mendelssohn (Alemanha, 1809-1847), Three folk songs

a) Entflieh mit mir, op. 41, nº2



Duração: 00:59

b) Es fiel ein Reif, op. 41, nº3


Duração: 01:02

c) Auf ihrem Grab, op. 41, nº4


Duração: 02:05



2ª parte
Mozart

Abstemo-nos hoje de comentar a vida e obra de Mozart, porque em nossos concertos anteriores muito já foi dito sobre esse genial compositor austríaco do século XVIII. Supomos que o ouvinte terá por isso maior interesse em ouvir algumas breves considerações sobre o que seja uma Serenata. Etimologicamente, a palavra, que é italiana, significa canção noturna. Entretanto, adquiriu vários outros sentidos.
Como todos devem saber, num de seus sentidos, Serenata significa qualquer tipo de música vocal ou instrumental, executada à noite e ao ar livre, quase sempre por um apaixonado que canta sob a janela da amada, ou toca... se não tem voz.
A palavra designou também no século XVIII uma espécie de Cantata, isto é, de peça para vozes solistas, coro e instrumentos, usando texto dramático ou simples poema.
Ainda no século XVIII aparecem com o nome de Serenata, um tipo de música instrumental, forma intermediária entre a suíte orquestral, série geralmente de quatro danças, e a sinfonia.
Constituída por vários movimentos curtos, a Serenata, que foi muito popular na 2ª metade do século XVIII, conservou algumas danças da suíte ao lado dos movimentos não coreográficos, de uso na sinfonia. Entretanto, a estrutura e seriação dos seus diversos movimentos não têm a fixidez que caracteriza essas duas formas. Como elementos constantes e quase indispensáveis, a Serenata apresenta apenas uma marcha e um minuete. A marcha quase sempre inicia ou termina as peças desse tipo. O minuete não tem posição rígida, embora se intercale mais frequentemente entre dois Allegros ou um Allegro e um Andante. Além disso, é um trecho que, em certas serenatas, é repetido várias vezes, mudando de posição.
Praticamente iguais à Serenata são duas outras formas instrumentais do século XVIII, a Cassação e o Divertimento.
Mozart compôs em 1780 a Serenata nº 10, K.361, apresentada no concerto de hoje. A peça provavelmente escrita para a orquestra da Corte de Munique, destina-se a 2 oboés, 2 clarinetas, 2 basset-Horn" (clarinetas tenores em Fá), 4 trompas, 2 fagotes, 1 contra-fagote ou uma tuba-baixo. Pela composição já perpassa um sopro de romantismo, que se acentuaria nas últimas obras de Mozart, e é especialmente sensível no Adágio e nas Variações, estas constituindo uma das melhores séries de variações que Mozart escreveu. "Em seu conjunto, esta serenata de Mozart, rica de brilhantes efeitos de timbre, é uma obra única em sua espécie.”**

Mozart (Áustria, 1756-1791), Serenata em Si Bemol Maior, nº10, K.361 (para 13 instrumentos de sopro.)



Duração: 50:38

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* Após as iniciais O.A./et., se encontra a assinatura de Oneyda Alvarenga.
** Ao final do texto, mais uma vez, assinatura de Oneyda Alvarenga.

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