Ouça a leitura desse concerto:
24 de setembro de 1953
6 pessoas
1ª parte
Ernest Chausson
A música instrumental ressurgiu seriamente na França com o célebre compositor César Franck, cuja produção é inteiramente francesa, embora ele haja nascido na Bélgica.
Voltando-se especialmente para a música de câmara, César Franck, além de criador, foi o formador de mais um grupo de artistas franceses.
Na primeira geração de artistas que tiveram contato pessoal com o mestre, Ernest Chausson ocupa um lugar eminente, e foi um dos mais delicados e finos músicos brotados da orientação franckista. Nascido em Paris, em 21 de janeiro de 1855, sua carreira foi muito curta. Além de só se ter dedicado muito tarde à música, Chausson morreu estupidamente num desastre de bicicleta, aos 44 anos. Sua obra, embora curta, foi suficiente para mostrar seus dons criadores e colocá-lo no número dos artistas sérios.
Aluno insatisfeito de Massenet, no Conservatório de Paris, Chausson dirigiu-se a César Franck, que possuía, como ele, uma fina e sensível delicadeza. Com César Franck, estudou cerca de três anos e encontrou assim o caminho que buscava.
A obra de Chausson, quer instrumental ou vocal, é toda importante, salientando-se nela a música de câmara.
Nas suas composições dramáticas, como o "Rei Artur", Chausson revela a influência de Wagner; nas composições sinfônicas, e principalmente nas de câmara, vê-se a marca da escola franckista, da qual assimilou a sólida estrutura técnica, estética e a simplicidade expressiva. Da sua música de câmara, que é a parte mais original das suas obras, a audição de hoje mostrará o "Concerto em Ré maior, op. 21," escrito para piano, violino e quarteto de cordas.
Chausson compôs esta peça com a concepção setecentista do concerto, e trabalhou nela durante o período em que estudou com César Franck. Começando a escrevê-la em 1889, terminou-a em 1891.
O concerto tem quatro movimentos. Decidido, Siciliana, Grave e final.
O primeiro movimento inicia-se com a exposição do primeiro tema pelo piano, repetido imediatamente pelo violino e violoncelo juntos e depois pelos outros instrumentos de cordas.
Essa apresentação dura trinta e quatro compassos, numa insistência enérgica. Este tema decidido, forte, seriamente voluntarioso, se desenvolve numa ampla melodia, admiravelmente bela e profunda.
A Siciliana é dança antiga, introduzida nas composições desde os tempos de Johann Sebastian Bach. Esta Siciliana de Chausson possui um colorido e uma espontaneidade melódica encantadores, podendo ser comparada às mais belas melodias de Gabriel Fauré e a delicadeza do bailado dos Campos Elíseos, de Gluck.
O 3° movimento, grave, é dolorosamente intenso. Esta quase tragicidade é notada também no Adeus de sua obra dramática, "Rei Artur", e no Largo da "Sinfonia", como se Chausson tivesse a intuição da morte prematura. O 2° tema, melódica e ritmicamente angustioso, é de uma beleza extraordinária, simultaneamente revoltado e resignado.
O final, muito animado, não obedece ao habitual desenvolvimento das formas da sonata. Muito variado, de grande riqueza rítmica e melódica, desenvolve-se longamente com uma segurança notável.
Chausson (França, 1855-1899): Concerto em Ré Maior, op. 21 (piano, violino e quarteto de cordas)
Duração: 41:01
2ª parte
Arcangelo Corelli
No Concerto Grosso a orquestra se divide em dois corpos e um grupo de dois ou mais instrumentos principais, chamado "soli", "concertino", “concertato" ou "concertante", e o restante da massa orquestral, chamado "ripieno" ou "tutti". No fato de que os dois grupos agem sempre de maneira combinada está a significação da palavra "concerto”, sendo que Concerto Grosso quer dizer concerto grande, pois, que a parte solista é confiada a vários instrumentos, de preferência de cordas. Este tipo de concerto foi criado e desenvolvido pela escola italiana de violino, nos séculos XVII e XVIII, e fixado por Arcangelo Corelli, compositor nascido em 1653 e falecido em 1713.
Em 1714, Roger de Amsterdam publicou doze "concerti grossi" op.6; oito concertos de Igreja e quatro concertos de câmara, de Corelli. O organizador desta edição, Matteo Fornari, aluno de Corelli, incluiu nela o famoso "Concerto de Natal" (Concerto fatto per la notte di natale) cujo último movimento constitui o primeiro exemplo clássico de Pastoral instrumental. Mesmo sem a particularidade deste movimento, o Concerto de Natal deve ser considerado como o mais amadurecido e mais belo de todos os "concerti grossi" dos mestres italianos. A sua forma representa o resultado dos esforços de um século, para incorporar numa ideia todo o sistema da música barroca italiana - o estilo concertante.
A Pastoral do Concerto de Natal representa o ponto culminante de uma série de tentativas nesta forma, feitas durante um século, mais ou menos. A Pastoral, invenção predileta da Renascença, com seus baixos amplos, seus embaladores ritmos, sua calma melodia em terças, constituiu, no princípio, um gênero de música vocal sobre texto bucólico. Mais tarde, já no fim do século XVI, surgem as Pastorais teatrais, representadas, que deram início à ópera florentina. Fixam-se assim as características expressivas da Pastoral, que, mesmo como música instrumental alheia ao teatro, passa a constituir um gênero em que se sugere ou se descreve um quadro campestre.
No Concerto de Natal, Corelli atingiu o tipo ideal da Pastoral-Siciliana. Segundo Forkel (Critical music library, II, 340), Corelli pretendeu descrever um quadro dos anjos pairando sobre Belém, um equivalente sonoro da famosa Natividade do pintor Botticelli. A graça e pureza do quadro musical de Corelli só foram excedidas pelo grande Johann Sebastian Bach, que descreve tudo na Pastoral de seu oratório de Natal: pastores e anjos, o terrestre e o celeste.
O fato de que a Pastoral pode ser executada ou omitida, à vontade, dá a entender que o Concerto de Natal não deve ser encarado como música de programa; entretanto, é certo que as diversas partes da obra são expressivamente concatenadas, culminando em importância no movimento final. No grave da Introdução, por exemplo, o quadro da Crucificação é evocado de um modo muitas vezes usado por Bach: contra um solene e escuro fundo, os anjos pairam em redor do berço do Menino Sagrado.
Corelli (Itália, 1653-1713): Concerto Grosso em Sol Menor, op. 6, nº 8 (“Concerto de Natal”)
Duração: 14:23
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* Repertório repetido do 20º Concerto de Discos
** Repetição do 38º Concerto de Discos