Ouça a leitura desse concerto:
06 de agosto de 1953
10 pessoas
1ª parte
Charles-Camille Saint-Saëns.
A música de câmara - isto é, a música para pequenos agrupamentos instrumentais - viveu quase abandonada pelos músicos franceses durante a primeira metade do século XIX, embora florescesse em outros grandes centros artísticos europeus.
Na segunda metade desse século surgiu entretanto na França um movimento renovador, uma espécie de renascimento, que visava elevar a música francesa a um nível melhor e a libertá-la das influências estrangeiras que a estavam descaracterizando.
A música de câmara era dificilmente compreendida pelo público de então, e os primeiros compositores franceses do gênero, como Morel e Henri Reber, viram suas peças mais ou menos fracassadas. Segundo um historiador inglês, (Walter Wilson Cobbett) só em 1860 a música de câmara conseguiu conquistar os apreciadores de música, graças à audição dos últimos quartetos de Beethoven e dos quartetos de Schumann. Em 1870 Charles-Camille Saint-Saëns funda a Sociedade Nacional de Música, contribuindo com seu espírito batalhador e empreendedor e com sua própria produção, tão representativa na música francesa da época, para o progresso e difusão da música de câmara.
Saint-Saëns nasceu em 1835 e faleceu em 1921. Tendo vivido portanto 85 anos de sua longa vida no século XIX, suas obras apresentam muito pouca afinidade com a música atual, podendo ser incluídas entre as produções do romantismo tardio. Grande instrumentador, Saint-Saëns é um dos mestres do Poema-Sinfônico, gênero musical baseado em um programa literário ou extra-musical, cuja criação se deve a Liszt.
Saint-Saëns demonstrou muito cedo uma enorme tendência para a música e grande habilidade pianística. Recebeu as primeiras instruções musicais de sua mãe e de uma tia-avó, mulheres inteligentes e cultas que souberam encaminhá-lo, orientando-o para uma cultura musical geral, que o impediu de tornar-se exclusivamente um virtuose.
Sempre estudioso, atingiu uma cultura musical notável e uma grande ciência técnica de música. Para descansar de seus trabalhos musicais, Saint-Saëns dedicava-se à literatura e à ciência em geral. Certos críticos dizem mesmo que esse enciclopedismo contribuiu para torná-lo um tanto seco e falho de emoções profundas.
Embora Saint-Saëns seja mais conhecido como compositor de óperas e de música sinfônica, sua música de câmara apresenta um alto valor. Nela se contam várias peças escritas para interessantíssimas combinações instrumentais, como o Septeto que ouviremos hoje, destinado a pistão, 2 vl., vla., vcl., cb. e p.1
O pistão é um instrumento de sopro raramente empregado na música de câmara, entre os instrumentos de cordas. Saint-Saëns usou-o nesse septeto como homenagem à Sociedade Musical francesa “La Trompette”, destinando-o a uma festa dessa agremiação.
A peça é curta e simples na sua estrutura. A distribuição dos movimentos se parece com a das Suítes clássicas, que eram séries de danças. Inicia o septeto um preâmbulo, equivalendo a um prelúdio, seguido por minuete, intermédio, gavota e final. Em toda a peça o pistão é tratado com maestria, executando sua parte ora com energia ora com brilho, ou dando uma nota marcial e firme aos trechos em que o compositor usou o tema de um dos toques regimentais do exército francês.
O preâmbulo começa brilhantemente, com frases vigorosas enunciadas pelo pistão. Segue-se o minuete, revelando a elegância peculiar dessa dança francesa. O intermédio-andante é uma marcha fúnebre, sóbria e pungente, cuja nota austera é atenuada pela graciosa e viva gavota.
Charles-Camille Saint-Saëns (França, 1835-1921): Septeto em Mi Bemol Maior, op. 65.
Duração: 17:23
Madrigais
O madrigal é um tipo de canção polifônica, isto é, de canção a várias vozes, que nasceu de formas populares de canção italiana, e foi desenvolvido na Itália por compositores franco-flamengos do século XVI, lá fixados. Apresentando uma estrutura musical em que a melodia se desenvolve rastreando o sentido psicológico ou descritivo do texto, seus poemas de forma livre tratavam os mais variados assuntos, embora com predomínio do assunto amoroso.
Tendo tido enorme voga, o madrigal conquistou toda a Europa no século XVI e primeira metade do século XVII.
Quando em 1588 Nicholas Yonge publicou na Inglaterra a coleção de madrigais italianos ''Música Transalpina", com os textos traduzidos para o inglês, os compositores britânicos se apropriaram logo da canção italiana. E com tanto ardor se entregaram a ela, que a Inglaterra pode se vangloriar de ter possuído uma escola de Madrigal absolutamente admirável, só ultrapassada pela italiana.
Os compositores ingleses de Madrigal imprimiram-lhe logo um caráter e um estilo nacionais. Assim é que aos madrigais estritamente polifônicos da produção clássica no gênero, substituem-se na Inglaterra os Madrigais em que sensivelmente domínio da voz mais aguda. Esse predomínio de tal modo cresceu que veio a causar o aparecimento de uma forma de canção inglesa - a “Ayre”, em que uma voz solista é acompanhada por outras vozes ou por instrumentos, à vontade dos executantes, e em que as várias estrofes do poema cantam-se com uma só melodia.
Nosso programa apresenta quatro grandes madrigalistas britânicos com peças pertencentes aos vários tipos de canção polifônica inglesa.
A peça de Morley (1558-1603) pertence ao tipo chamado Ballet, do italiano Balletto, e é escrita para cinco vozes. O Balleto é uma canção de caráter coreográfico de corte igual ao da Ayre, isto é, as estrofes são cantadas com a mesma música. Apresenta ainda um refrão, iniciado sempre com as sílabas: Fá - Lá. Estas sílabas constituem o outro nome pelo qual a forma é conhecida na Inglaterra.
A peça de Weelkes (1575-1623) é um legítimo madrigal a seis vozes, escrito em homenagem à Rainha Elizabeth I.
Madrigal é tambem a composição de Gibbons (1583-1625). A composição de Francis Pilkington (falecido em 1638) é uma "Ayre" deliciosa para quatro vozes.
Ainda na 1ª parte: Madrigalistas ingleses:
Thomas Morley (Inglaterra, 1557-1603): Sing we and chant it
Duração: 01:43
Orlando Gibbons (Inglaterra, 1583-1625): Ah! Dear heart
Duração: 01:50
Thomas Weelkes (Inglaterra, 1573-1623): As Vesta was descending
Duração: 02:45
Francis Pilkington (Inglaterra, 1565-1638): Rest sweet nymphs
Duração: 03:11
2ª parte
Robert Schumann
O compositor alemão Robert Schumann, do século XIX, pela sua vida e pela sua obra é um dos vultos mais característicos do romantismo. Apaixonado pela música, desde criança escreveu pequenas composições, entre as quais o Salmo 150 para coro e orquestra, executado por uma orquestrinha infantil dirigida por ele próprio.
A partir da adolescência, o menino mais ou menos despreocupado que Schumann era se transformou num ser silencioso e melancólico. Embriagando-se de literatura, filosofia e música, adorava o poeta inglês Byron, as tragédias de Shakespeare e principalmente o escritor alemão Johann Paul Richter. Entre os músicos preferia Beethoven, J. S. Bach e Schubert, seus contemporâneos. Todos esses artistas influíram muito na sua formação espiritual e artística.
Robert Schumann tornou-se o protótipo do estudante romântico, a um só tempo apaixonadamente entusiasta e desanimado, esperançoso e desesperado, sonhador e doentio. Convicto de que devia dedicar-se à música exclusivamente, e apoiado pelo professor Wieck, abandonou o curso de direito que frequentava, dedicando-se inteiramente à arte escolhida. Seu temperamento impaciente impediu-o de terminar os estudos técnicos (harmonia, contraponto e composição) que continuou sozinho, falha de que resultaram talvez defeitos para as suas peças orquestrais de grande vulto. O ardor com que estudou piano, levou-o a um exagero de exercício que lhe paralisou um dedo e entorpeceu-lhe a mão, que nunca mais ficou inteiramente curada. Desistindo então da carreira virtuosística, Schumann dedicou-se inteiramente à composição e à crítica musical.
Suas obras mais importantes são as peças curtas para piano e as canções.
Schumann escreveu um único concerto para piano - o concerto em Lá menor dedicado ao pianista e compositor Ferdinand Hiller. Terminado em 1845, esse concerto é uma das suas mais belas obras. Uma melodia simples e fértil transborda por todo o concerto, tendo o piano um papel destacado.
Schumann (Alemanha, 1810-1856), Concerto em Lá Menor, op. 54 para piano e orquestra
Duração: 27:48