169º Concerto: Mozart e Brahms

12 de dezembro de 1957
9 pessoas

1ª parte*

Mozart

“A musicalidade intensa de Mozart, destinada a deixar marcas de gênio em todos os gêneros que abordou, propendia acentuadamente para o teatro. O teatro sempre foi a sua preocupação maior, e assim é que a ausência de representações musicais, e de um meio onde elas pudessem desenvolver-se, se inclui entre as causas que o fizeram deixar Salzburgo, sua terra natal, para fixar-se em Viena.
A ópera absorvia a maior parte das atenções da época. Na Alemanha, como em toda a parte, as grandes cortes brilhavam com os músicos e cantores famosos trazidos da Itália, enfeitavam-se, embebiam-se, impregnavam-se de música italiana, enquanto que nas pequenas cortes da infinidade de pequenos reinados em que então se dividia o país, é que se formavam, aos poucos, como consequência mesma de recursos mais modestos, o sinfonismo e a música instrumental alemães.
Como todos os demais operistas do seu tempo, Mozart sofreu também a influência italiana, influência que ele bebeu na própria fonte, pois que três vezes estivera na Itália e lá iniciara, aos 14 anos, sua carreira de compositor teatral.
Aprendendo a escrever para a voz humana com os italianos, dando à sua música vocal uma luminosidade e uma voluptuosidade latinas, Mozart, entretanto misturou aos seus sorrisos mediterrâneos (que também eram fruto da sua gloriosa alegria) um quê de gravidade e profundeza germânicas, que lhes tirou o aspecto de superficialidade mais comum às linhas melódicas italianas. Por outro lado, a importância que Mozart reservava à orquestra no seu teatro musical levava para este conquistas sinfônicas alemãs de seu tempo, que ele próprio genializara (sic) em tantas e tão admiráveis obras.
'Foi um alemão, escreveu Wagner, que levou a ópera italiana à sua perfeição ideal e, depois de tê-la assim marcado com o selo da universalidade, presenteou-a a seus compatriotas. Mozart enobreceu tão bem as qualidades dominantes da maneira italiana, fundiu-as tão bem com os seus próprios dons - a pureza e o vigor alemães, que chegou a criar algo de absolutamente desconhecido antes dele'.
Entretanto, o italianismo operístico de Mozart aparece entremeado de preocupações pela criação de uma ópera verdadeiramente alemã. E para ela dá de fato as primeiras contribuições geniais, com 'O Rapto no Serralho', a que chamou de 'opereta cômica', composta em 1781-82, e 'A Flauta Mágica', escrita em 1791 e já então denominada 'ópera alemã'.
Além dessas óperas, as obras-primas de Mozart para o teatro são: 'Le nozze di Figaro' opera-buffa em quatro atos (1785-1786); 'Così fan tutte', opera-buffa em dois atos (1789-1790) e 'Don Giovanni', 'dramma-giocoso' em 2 atos (1787), que é geralmente considerada a mais alta expressão do teatro lírico mozartiano.”
A primeira parte de nosso programa exemplifica rapidamente algumas óperas de Mozart. Ao lado de trechos de obras-primas da sua maturidade, a gravação escolhida contém uma ária de "Il Ré Pastore", ópera que Mozart escreveu em 1773, aos 18 anos, e o "Aleluia" do motete "Exsultate jubilate", composto na mesma data, bom exemplo da profanidade teatral da música religiosa da época.

Fontes: Transcrição literal de conferência inédita de Oneyda Alvarenga sobre Mozart.

Mozart (Áustria, 1756-1791):
Die Zauberflöte - Arie der Königin der Nach



Duração: 01:57:33


Le Nozze di Figaro: voi che sapete – 3º ato



Duração: 39:54


Die Entführung aus dem serail: K.384 – Ach, ich liebte – 1º ato



Duração: 49:50

Duração: 01:46:00

Die Entführung aus dem serail: K.384 – Welch Wonne – 2º ato




Duração: 01:07:45

Motette für sopran: K.165 – Exsultate, jubilate - “Aleluia”



Duração: 15:02


Il rè pastore: K.208: L'amerò, sarò constante



Duração: 07:09

2ª Parte**

Brahms

A música da segunda metade do século XIX situa-se numa fase histórica geralmente designada como Romantismo tardio, fase que teve como características essenciais duas reações: uma contra as exterioridades românticas, o pitoresco, o descritivo, o exagerado; outra dirigida especialmente contra Wagner que, pelo caráter extremamente individual do seu gênio, principiava a dar mal-estar a seus próprios patrícios.
Brahms é o maior representante alemão do Romantismo tardio. Após uma fase juvenil de "Ânsia e Tormenta", Brahms foi se despindo progressivamente de ímpetos e estardalhaços expressivos, até atingir a expressão condensada que deu à sua música bem construída, um recolhimento e uma intimidade admiráveis.
Embora o piano tenha ocupado lugar de relevo em toda a sua carreira, Brahms se dedicou a ele especialmente no início da sua vida artística, ao tempo em que muito se beneficiou da amizade e influência de Schumann. Uma das suas obras-primas para esse instrumento são as Variações e Fuga sobre um tema de HandeI, geralmente consideradas uma das grandes joias da literatura pianística. Escritas em 1861, essas Variações pertencem à segunda fase criadora de Brahms, colocando-se num período em que ele, tanto nos seus estudos quanto nas suas composições, cuidou particularmente da forma da Variação. Sem entrar em complicações técnicas, podemos explicar assim o que seja essa forma: a Variação é um processo de criação musical em que o compositor, tomando um trecho próprio ou de outrem, modifica-o num de seus elementos (ritmo, harmonia, melodia, ornamentos, rapidez, modo, tom), mas de jeito que esse trecho básico, chamado tema da Variação, não perca a fisionomia própria e seja sempre reconhecível sob a roupa nova.
Karl Geiringer acentua que, nas Variações hoje apresentadas em nosso programa, "Brahms atingiu a completa maestria da forma da Variação. Nesta obra todos os princípios da variação seguidos em obras mais antigas são unidos pela primeira vez. Na maioria das 25 variações a estrutura harmônia e periódica do tema é escrupulosamente preservada, e igual atenção é dada à melodia, É precisamente por esses escritos que o mestre se impôs, que a força da imaginação e a habilidade técnica exibidas por ele neste obra conferem-lhe uma posição especial entre suas composições para piano. É difícil dizer o que causa maior admiração: se a concatenação lógica das variações individuais, sua firme coesão orgânica, a profunda vitalidade espiritual da obra, ou sua pura eficiência como música para piano. (...) O conjunto é uma obra-prima, na qual a estrita observância das normas técnicas e a maior liberdade são miraculosamente contrabalançadas".
Cabe-nos salientar ainda que, sem visarem exibição virtuosística, estas Variações estão entretanto eriçadas de enormes dificuldades para o executante, de quem requerem inclusive força física. Por isso Clara Schumann, grande pianista, escrevia a Brahms: "Sinto-me desoladíssima porque essas variações, que tanto me entusiasmam, estão acima das minhas forças". As Variações são realmente entusiasmantes, "handelianas por sua grandeza, sua potência, seu brilho, seu frescor, seu dinamismo irresistível", como bem comentou Claude Rostand.

Bibliografia:

Oneyda Alvarenga: "Música do século XIX" (curso de História da Música, conferência inédita. Vários trechos literalmente copiados.)
Karl Keiringer: "Brahms - His Life and Work". 2ª ed . rev. e aum. London, George Allen and Unwin Ltd., 1948 .
Claude Rostand: "Les Chefs-d'Oeuvre du Piano" (Petit Guide de l'Auditeur de Musique). Paris, Éditions Le Bon Plaisir, c1950.

Brahms, Variações sobre um tema de Haendel (piano)



Duração: 26:22

_________________________
* Repetição da primeira parte do 106º Concerto de Discos.
** Repetição da primeira parte do 93º Concerto de Discos.

Compartilhe: