168º Concerto: Haydn e Glazunov

28 de novembro de 1957



1ª parte

Haydn

Haydn é um dos gênios que enriqueceram a música da segunda metade do século XVIII. Coordenando e ampliando experiências anteriores, Haydn foi um dos fixadores da chamada forma-Sonata, da estrutura da Sinfonia, da orquestra moderna e o estabelecedor das bases em que o quarteto de cordas se mantém até agora. Na música instrumental reside, pois, a parte maior e melhor do gênio criador de Haydn e sua contribuição essencial para o alargamento das possibilidades técnicas da música.
Certamente porque ele próprio não era um virtuose, e ainda porque fossem outras as exigências que cercavam sua vida de músico a serviço de nobres, o número dos concertos que Haydn escreveu é pequeno, se comparado a outros setores da sua obra enorme. Enquanto, por exemplo, suas Sinfonias são 104 e seus Quartetos 83, o total dos seus Concertos para diversos instrumentos é de aproximadamente duas dúzias, número em que se incluem, além disso, algumas obras de autenticidade duvidosa.
Entre essas obras de autoria incerta está o Concerto para oboé, que inicia nosso programa de hoje. Embora o conhecesse, um dos mais antigos e autorizados biógrafos de Haydn deixou de mencioná-lo até entre as peças duvidosas, que meticulosamente recenseou.
De espírito e fatura bem característicos do século XVIII, esse Concerto claro e alegre é executado, na gravação que apresentamos, com um verdadeiro esplendor de virtuosidade, com uma segurança e uma suavidade de sopro que realçam extraordinariamente todos os grandes recursos do tão belo instrumento solista.

Haydn (Áustria, 1732-1809: Concerto em Dó Maior, para oboé e orquestra.



Duração: 23:04

2ª parte

Glazunov

Como manifestação musical de caráter nacional, a Rússia só conheceu, durante muitos séculos, a música religiosa de tradição bizantina e a música folclórica, a música anônima do povo, de extraordinária riqueza. Até o século XIX, a música culta não teve importância nem vida própria, pois realmente viveu de músicas e músicos importados.
O verdadeiro ponto de partida da música russa é Miguel Glinca, nascido em 1804 e falecido em 1857, iniciador de um movimento de caracterização nacional que iria dar importância musical à Rússia e realizar o espantoso milagre da criação e fixação, em menos de um século, de um vasto patrimônio artístico.*
Esse movimento nacionalista teve sua maior expressão num grupo de músicos a que os russos chamaram de "o grupo invencível" e que fora da Rússia ficou conhecido como "o grupo dos Cinco" ou "os Cinco grandes": Balaquirev, Borodin, Cui, Mussorgsqui e Rimsqui-Corsacov.
A esse grupo de grandes nomes seguiram-se os considerados nacionalistas menores, entre os quais se situa Alexandre Glazunov, autor da Sinfonia que encerra nosso programa.
Ainda menino, Glazunov atraiu a atenção de Balaquirev pelos seus dons excepcionais e por ele foi conduzido a Rimsqui-Corsacov, com quem ampliou seus estudos. Aos 16 anos Glazunov compôs sua primeira Sinfonia, que Balaquirev apresentou em concerto, com enorme sucesso.
Três anos depois o jovem músico já era conhecido fora da Rússia, graças principalmente ao apoio de Liszt, sempre amigo de amparar valores novos.
Até os 30 anos, Glazunov seguiu de perto os ideais do grupo dos Cinco. Mudou de rumo depois. Calvocoressi comenta que o próprio Glazunov não tinha consciência disso e conta, em abono da sua afirmativa: "De fato, no momento exato em que os críticos da Europa ocidental deploravam a sua mudança de caminho, e atribuíam isso à influência de Brahms e de Reger, em conversa comigo Glazunov se queixava de que a música russa estava perdendo gradualmente o seu caráter nacional e os compositores russos estavam seguindo as pegadas do academismo alemão" .
Sendo dono de conhecimentos técnicos seguros e largos, que lhe poderiam ter servido para criar-se uma forte originalidade e abrir novos meios de expressão para a música do seu país, faltou entretanto a Glazunov a força criadora suficiente para isso. Talvez seja essa ausência de "espírito de aventura", como a chamou Calvocoressi, que causou o declínio da fama internacional de Glazunov e o quase esquecimento, verdadeiramente injusto, a que sua música foi relegada.
Aos 40 anos, Glazunov tinha na sua bagagem artística já grande, oito Sinfonias. A 4ª, que conclui este concerto, participa do número das suas melhores obras juvenis. Glazunov considerava-a uma "pessoal, livre e subjetiva expressão de si mesmo", isenta completamente de intenção nacionalista. Seria livre de intenção, não há como discutir uma afirmativa de autor; mas é indiscutível também que essa 4ª Sinfonia revela uma atmosfera e uma sensibilidade perfeitamente reconhecíveis como russas.

Fontes: Comentário ao 91º Concerto.
M. D., Calvocoressi: "Panorama della Música Russa"
Grove's Dictionary of Music and Musicians
Comentário que acompanha a gravação.

Glazunov (Rússia, 1865-1936): Sinfonia em Mi Bemol Maior, nº 4, op. 48.



Duração: 34:31

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* Repetição do 103º Concerto de Discos, do dia 16 de dezembro de 1954 .

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