139º Concerto: Villa-Lobos e Schumann

17 de maio de 1956*
7 pessoas

1ª parte

Villa-Lobos

1) "Choros 10"


Entre as obras mais importantes do grande compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos estão as séries dos "Choros" e das "Bachianas Brasileiras".
Os "Choros" formam um monumental conjunto de dezesseis peças para os mais variados meios de execução, indo desde o violão solista do nº 1, até a fusão de orquestra, banda e coros do nº 14. Partindo da intenção de evocar a música dos chorões populares cariocas, os "Choros" de Villa-Lobos se alargaram de tal modo como forma e conteúdo, que se transformaram num vasto mundo onde podem ser encontrados múltiplos aspectos e tendências da música e da sensibilidade brasileiras.
O "Choros 10'" escrito em 1925, é destinado a orquestra e coro misto. O coro, empregado principalmente na obtenção de efeitos onomatopaicos, não usa texto literário, mas palavras e sílabas soltas.
Para esta peça de Villa-Lobos, Serge Lifar e Victor de Carvalho escreveram o argumento de um bailado, levado à cena em Paris e no Rio com o nome de "Jurupari".
O "Chôros 10" é geralmente considerado não só o mais belo da série, como uma das obras mais perfeitas de Villa-Lobos e uma das mais importantes da música brasileira. Evocações de matas e pássaros perpassam no seu início, e entre sombras e luzes cruas, asperezas e suavidades a peça caminha até atingir o violento crescendo final, em que, sobre o coro tumultuoso, perpassa distante e pouco audível a melodia da modinha "Rasga o Coração", que emprestou ao "Choros l0" o nome por que ele é conhecido.
Disco

Villa-Lobos (Brasil, 1887-1959): os Choros nº 10.



Duração: 11:33

2) "Bachianas brasileiras nº 2"

As "Bachianas Brasileiras" são uma série de nove peças, escritas por Villa-Lobos entre 1930 e 1945, e também destinadas, como os "Choros", a vários meios de execução. Villa-Lobos compôs as "Bachianas Brasileiras" com o propósito de fundir as características da nossa música ao estilo contrapontístico de Bach, e de homenagear assim o grande gênio alemão do século XVIII, considerado por ele "um manancial folclórico universal, intermediário de todos os povos" (Vasco Mariz).
Se é muito discutível ver-se em Bach um ponto de encontro das características musicais de todos os povos; se as "Bachianas Brasileiras" saíram muito Brasil, muito Villa-Lobos e nenhum Bach, são coisas que realmente não importam. Ou melhor, o que importa é exatamente que elas sejam Villa-Lobos e Brasil, é que elas se coloquem entre as grandes criações do nosso músico e da nossa música. Assim é, e por isso as "Bachianas Brasileiras" constituem de fato a mais verdadeira homenagem que Villa-Lobos poderia prestar a Bach.
A "Bachiana nº 2", destinada a orquestra de câmara, foi escrita em 1930. Compõe-se de quatro movimentos: Prelúdio, Ária (Canto da nossa terra), Dança (Lembrança do sertão) e Tocata (Trenzinho do Caipira). A gravação apresentada em nosso programa registra apenas o 2º e o 4º movimentos. Na Ária é evocado "o ambiente sonoro dos candomblés e das macumbas" (Vasco Mariz). A Tocata, como seu subtítulo indica, é uma peça descritiva, verdadeiramente deliciosa. Entre bufos e rangidos, o trenzinho sacolejante vai cortando pachorrento a paisagem apagada, a vida apagada das cidadinhas do interior.

A interpretação apresentada é da Orquestra Sinfônica Janssen regida por W. Janssen.

Disco

Dois trechos das Bachianas Brasileiras nº 2, a saber:
2 - Ária (Canto da nossa terra)



Duração: 06:46


4 – Tocata (O trenzinho do caipira)



Duração: 05:11

A gravação é da “Orquestra Sinfônica Janssen, regente W. Janssen, e Sociedade Oratório de Los Angeles”


Fontes bibliográficas:
Vasco Mariz: "Heitor Villa Lobos". Rio de Janeiro, Serviço de Publicações do Ministério das Relações Exteriores – Divisão Cultural, s.d.


2ª parte

Schumann

Schumann tem o seu nome marcado na música orquestral com quatro sinfonias, e na música de câmara com Quartetos e principalmente com o seu Quinteto. Entretanto, o melhor do seu gênio é revelado pelas suas coleções de peças curtas para piano e pelos Lieder, de que ele é um dos maiores representantes, ao lado de Schubert e dos compositores posteriores Brahms e Hugo Wolff.
A principal influência revelada pelas obras de Schumann não provém de musicistas, mas do escritor João Paulo Richter. A predileção schumaniana pela expressão condensada, pelas peças curtas, pelas impressões reveladas em traços rápidos, pelos motivos musicais de pequenas dimensões, são uma transposição sonora do estilo literário de João Paulo Richter. Essa transposição lhe permitiu, entretanto, criar obras-primas pianísticas admiráveis, como o “Carnaval op. 9”, “O Carnaval de Viena” e as deliciosas “Cenas infantis”.
Das sinfonias de Schumann, nosso programa de hoje apresenta a nº 4 que, cronologicamente, foi a segunda a ser composta. Tecnicamente, essa é a mais interessante das suas sinfonias. Schumann fez circular pelos seus diferentes movimentos os mesmos temas musicais, e, para acentuar-lhe a unidade, aconselhou a execução dela sem interrupções. A Sinfonia nº 4 tem pois forma cíclica, desenvolvida em torno de três elementos melódicos principais.
Sua interpretação, no disco que apresentamos, é da Orquestra de Cleveland regida por George Szell.

Schumann (Alemanha, 1810-1856): a Sinfonia em Ré Menor, nº 4, op.120



Duração: 27:51

_____________________________
* Repetição do 100º Concerto de Discos. Os textos também são os mesmos, sem acréscimos, ou alterações.

Compartilhe: