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132º Concerto: Schumann e Brahms

132º Concerto de Discos
09 de fevereiro de 1956
3 pessoas

1ª Parte

Schumann

Em um dos concertos anteriores, já tivemos ocasião de dizer que a parte principal da música de Schumann, um dos maiores compositores do Romantismo, é representada pelas obras para piano e pelos Lieder. Se bem que suas Sinfonias, seus Quartetos, seus Trios, seus Oratórios profanos não deixem de exibir a marca de seu gênio, não se equiparam às obras-primas que Schumann legou à literatura pianística e à canção. O caráter profundamente íntimo da sensibilidade musical de Schumann, sua fantasia transbordante, realmente não poderiam encontrar meio exato de expressão na amplitude e nos quadros fixos das grandes formas da música sinfônica, de câmara e vocal. Esse meio de expressão adequado Schumann o atingiu principalmente nas suas obras pianísticas formadas por uma sucessão de pequenas peças, rápidos quadros densos de imaginação, ternura e lirismo, como a admirável série do "Carnaval OP. 9" e as não menos admiráveis "Cenas infantis", compostas em 1838, que iniciam nosso programa de hoje. O próprio Schumann explicava as suas "Cenas infantis" como "lembranças para as pessoas que cresceram", como peças que "uma criança grande escreveu para as crianças pequenas". E mandando-as à sua noiva, a grande pianista Clara Wieck, explicava e recomendava: "É uma resposta inconsciente às palavras que me disseste um dia: às vezes pareces uma criança grande. Se assim é, verás que nasceram asas nessa criança... Gostarás por certo de tocar essas pequenas peças, mas é preciso que te esqueças de que és virtuose". É que, como ele sentia, essas peças exigem "graça simples, natural e sem afetação", para serem transmitidas na sua comovente poesia.

Schumann (Alemanha, 1810-1856): Cenas infantis, op. 15, (para piano)



Duração: 19:01

2ª Parte

Brahms

O musicólogo Karl Geiringer salienta que, embora o desenvolvimento artístico de Brahms tenha sido lento e seguro, sem mudanças bruscas, suas obras podem ser divididas em quatro períodos, possuidores de certas características bem distintivas.
O primeiro período, que vai até 1855, "é o tempo da afetuosa amizade com Robert Schumann e do amor apaixonado por Clara Schumann". Tempo de exaltação romântica, de interesse pela intenção da obra em detrimento do cuidado formal, de duros contrastes expressivos, mas onde já reportam "a simplicidade e a profunda ternura" que estão presentes em toda a criação de Brahms. É um tempo que o músico consagrou quase exclusivamente ao piano.
O segundo período é uma fase de transição, em que Brahms "segue diretamente os modelos clássicos". É o tempo principalmente da música de câmara. Calma e intimidade começam a suceder-se às asperezas anteriores, mas o músico não atingiu integralmente ainda o seu estilo próprio, aquela "admirável contraposição de nostálgico anelo romântico e repouso clássico", aquele "estilo crepuscular'', que se firmaria no terceiro período, iniciado pelo “Réquiem alemão". Esta é a fase madura de equilíbrio perfeito entre forma e fundo, de concisão, de "força e quase trágica violência", e, ao mesmo tempo, de afirmação "daquela infinita melancolia, elemento essencial de todo o corpo da sua obra". É a fase das grandes obras sinfônicas e corais, que vai até 1890.*
Depois dela, Brahms julgou seu poder criador esgotado, mas ele reviveu num quarto período, marcado pela volta aos meios de expressão da sua mocidade - o piano, os conjuntos de câmara e as canções, e por obras cada vez mais despidas de exterioridade, mais enxutas, mais intelectualmente refinadas e, muitas vezes, sem a espontaneidade lírica das suas obras anteriores.
Deste último período são os 3 Intermédios op. 117 que encerram nosso programa e formam com as séries de peças op. 116, op. 118 e op. 119 o cume da obra pianística de Brahms. Além da sua beleza, além da emoção que se desprende do 1º Intermédio, ao qual Brahms chamava "o acalanto dos meus sofrimentos", é preciso salientar a perfeição da escritura pianística dessas peças. Tão adequadas são elas ao instrumento, tão necessariamente ligadas ao piano, que o próprio Brahms não conseguiu arranjar satisfatoriamente para orquestra o Intermédio nº 1.

Brahms (Alemanha, 1833-1897): Intermédios, op. 117.



Duração: 16:58

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* Parágrafos reutilizados do texto do 106º Concerto de Discos, sobre Brahms.

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