Ouça a leitura desse concerto:
18 de novembro de 1954
18 pessoas
1ª parte
Mendelssohn
Mendelssohn escreveu aos 16 anos o seu Oteto op. 20. Entretanto, nessa peça de forma perfeita e de tão boa veia melódica, não há inexperiência de juventude. Técnica e expressivamente é uma obra madura que, pelo consenso unânime de críticas e executantes, se destaca, pelo equilíbrio geral do seu todo, entre a música de câmara de Mendelssohn, onde muita coisa possui valor irregular. Acresce notar ainda que, apesar de experiências anteriores de Spohr, como agrupamento instrumental esse Oteto de Mendelssohn foi praticamente o primeiro do seu tipo e poucos seguidores teve.
Mendelssohn conseguiu extrair amplos resultados sonoros do conjunto e o Oteto soa orquestralmente, em principal no vigoroso 1º movimento e no Presto conclusivo, de que a Fuga inicial chega a ser prejudicada por isso em sua clareza, e ainda pela circunstância de que o seu tema é apresentado em região muito grave, pelos celos e 2ª viola. Aliás, a sonoridade orquestral foi procurada por Mendelssohn, que recomendou em nota à obra: "Este Oteto deve ser tocado por todos os instrumentos em estilo sinfônico. Pianos e fortes devem ser estritamente observados e mais nitidamente acentuados do que é usual em peças deste caráter".
A joia deste Oteto é incontestavelmente o Scherzo, uma delícia de leveza e graça, que anuncia o Scherzo também admirável do "Sonho de Uma Noite de Verão" e demonstra aquela fluidez fantasmagórica que marcou, como uma novidade e um toque profundamente pessoal, todos os Scherzos de Mendelssohn.
FONTE: "Cobbett's Cyclopedic Survey of Chamber Music", London, Oxford University Press, 1930.
Mendelssohn (Alemanha, 1809-1847): Octeto em Mi Bemol Maior, op. 20, para 4 violinos, 2 violas e 2 violoncelos
Duração: 28:04
2ª parte
Kabalevskiy
Entre os músicos russos contemporâneos, pelo menos três já conseguiram renome e respeito internacionais. Um é Chostacóvitch*, o mais famoso deles, em torno de quem se desencadeou a onda mais larga de discussões sobre a estética musical soviética, com os consequentes apupos e aplausos, e raras críticas objetivas e serenas, como a do nosso admirável Mario de Andrade. Os outros dois músicos são possivelmente Catchatúrian e Kabalevskiy.
A verdade porém é que, embora muito discutida, pouco se conhece da música soviética não só no Brasil, como em quase todo o chamado mundo ocidental. As bases de julgamento são pois muito precárias e o assunto ainda gira praticamente em torno de ideias (ou de preconceitos), e não dos resultados dessas ideias.
De Kabalevskiy, dois anos mais velho que Chostacóvitch, nosso programa de hoje apresenta a bonita e bem construída Sonata nº 3, para piano, obra acessível sem ser banal, onde melodias largas e líricas alternam com ritmos marciais e obstinados. Quer se aceite ou se recuse a concepção não apenas soviética, mas realmente velhíssima, de que a música, como todas as artes, deve ser posta ao alcance e a serviço da coletividade, não é possível negar que a esta Sonata de Kabalevskiy se aplica a mesma conclusão a que Mario de Andrade chegou ao examinar a obra de Chostacóvitch: com todas as imperfeições que possa ter, essa música destinada às massas proletárias é um testemunho irrecusável do alto nível de educação de um povo.
Kabalevskiy (Rússia, 1904-1987): Sonata nº 3, op. 46, para piano.
Duração: 15:19
*Oneyda Alvarenga adota a grafia Chostacóvitch. Mas aqui se normalizou a forma Shostakovitch, também adotada por ela em outro concerto.